Tendo por premissa que a percepção do mundo, e da própria vida, tem vindo a ser moldada pelas forças em conflito da globalização e da identidade, Rafael G. Antunes rumou ao sul de Portugal para a materialização deste corpo de trabalho. Foi ao encontro de uma forma de cante polifónico que era usual acompanhar Mulheres e Homens no trabalho agrícola manual. Caído em desuso com o surgimento da industrialização no País nos finais do século XIX, era – e ainda hoje é (2019) – uma forte manifestação de Património Cultural Imaterial.

A revolução das tecnologias de informação e de comunicação transformaram a noção de tempo e de espaço, mediante a criação de um espaço de fluxos e de um tempo atemporal. Esta nova forma de organização social, que penetra em todos os níveis da sociedade, tem vindo a ser difundida mundialmente, abalando instituições e transformando culturas.

Dentro deste panorama, como é que expressões de identidade colectiva, assentes na sua singularidade histórica e cultural, conseguirão subsistir e preservar as suas características fundamentais? Serão estas expressões identitárias capazes de gerar acções simbólicas que lhes permitam continuar a dar sentido a um comportamento cultural colectivo, por forma a manter viva a memória colectiva de um povo? Continuará a ouvir-se o polifónico cante alentejano no Alentejo?